domingo, 27 de dezembro de 2015

BALADA PARA UM DIA QUALQUER


não precisava ser assim
o verso triste
a vida em riste
a palavra cortante,
sangue ou sêmen
semeiam esse instante
a sós...

não precisava ser o que sou
ficar de quatro para o sistema
naquele velho esquema, vendido
ele sempre ganha
eu sempre fodido...
o que será que ainda precisa acontecer?
O elevador subir
depois da pílula azul,
O poste cair
depois do porre de absinto,
A morte chegar
antes da bandeira quadriculada,
Um deus reagir
à miséria humana,

a inação é uma vertigem
dentro do ventre podre da virgem,
não precisava
essa porrada na cara todo dia
esse rastejar olhando o finito...
sinto que tudo se acaba
numa estridente gargalhada,
o coringa fugiu do baralho
não preciso desta rima,
vou transar de burguês
freguês de um puteiro chique,
todo mundo ri
tomo mundo fode
a saideira ninguém pede,
e fingimos que não fede.

não precisava ser assim,
ainda me assusto
com a conta...
zero absoluto
será que tudo é apenas grana?
Eu sem gana
sobrevivo
de lamber páginas vermelhas
do meu livro...

à espera do amanhecer.

3 comentários:

  1. Carlos,
    Senti um peso... e ao mesmo tempo uma ligeireza nas palavras.
    Impossível descrever com mais clareza, mas uma coisa é certa: Adore! :)

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  2. Que saudade de ler seus poemas! Uma perfeita sincronia entre letras que se derramam num rio de fel...e mel escondido, subentendido no ritmo alucinado da vida, com um ladrão em cada esquina, de corpos e almas. Preciso ler você, para crer...que nem tudo está perdido.

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  3. Que saudade de ler seus poemas! Uma perfeita sincronia entre letras que se derramam num rio de fel...e mel escondido, subentendido no ritmo alucinado da vida, com um ladrão em cada esquina, de corpos e almas. Preciso ler você, para crer...que nem tudo está perdido.

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