sábado, 17 de agosto de 2013

O meu PÁSSARO AZUL

meu pássaro azul
está semimorto,
já o libertei, ele se prende
a mim, que o criei
ao seu mundo, que sou eu
triste pássaro
que sobrevive de mim
azul no cinza
azul na noite
azul na merda
de que lhe vale ser azul?

meu pássaro azul,
a boca enche-se de prepotência
ao vociferar o possessivo: meu
a boca enche-se de porra
que é tudo o que sobra depois
que o sexo acaba,
azul pálido
azul desamor
azul refalsado
de que me vale ser ele azul?

meu pássaro azul
aprendeu a voar, mas não voa
- voar é tudo o que podemos
vá, pássaro enfeitado
enfeitar a iniquidade
enfeitiçar a sobriedade
foder a felicidade
azul mórbido
azul delinqüente
azul da gente
de que nos vale sermos azul,

se só voamos latrina abaixo?

14 comentários:

  1. Carlos,
    Nunca tinha lido um poema assim!
    Da realidade que nos avassala, tem o mérito de dizer o que todos têm tendência para calar.
    Gostei!

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    1. Dulce, bom dia... o pássaro e o estilo, emprestei-os de meu xará Bukowski... a sensação pode também ser a dele, pode ser a minha, a sua, é nossa, os inconformados com a concretude... abraços

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  2. Todos já ouviram dizer um dia que "a ignorância é uma benção", aqui o sentido é bem mais amplo.
    Ampliamos tanto nossas certezas, questionando-as que nos perguntamo um dia: para quê tudo isto?
    As vezes nos dá vontade de nunca termos alimentado este pássaro azul, uma consciência enorme e a certeza de nossa finitude. Carlos, é assim que senti este teu poema, lindo, bj

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    1. Claudia, quem sentiu foi o teu pássaro azul, aquele que não quer mais voar...bjs

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  3. Incertezas... há mais sensações claras ou sorrateiras.
    Entre ser ou não ser!
    O que fui o que sou!
    O que queria, o que quero e importantíssimo o que irei querer.
    Em minha singela percepção e sensação são fases metamorfósicas de primaveras ente eu e eu. Ou aqui você e você...Ou quem seja!

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    1. Sim, Patricia, é uma fase que já dura a vida inteira... bjs

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  4. Oi, Carlos!
    O pássaro Azul de Bukowski morava em seu coração. O seu, pelo que entendi é o próprio sexo. Daí dizer que todos temos um pássaro azul engaiolado que precisa necessariamente compor uma canção e que se não consegue, deve se contentar, dar graças por conseguir pelo menos uma nota. E pensar que, se quisesse deixar a natureza agir, as notas viriam espontaneamente, mas como é próprio do ser vivo retrair-se (engaiolar-se), a solução é fazer drama. Afinal, não é bom beber água de passarinho! :)
    Bom fim de semana!!

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    1. Luma, bom dia, respeito sua interpretação, mas como tenho a oportunidade de falar sobre o que escrevi, digo-lhe que há dois equívocos: um com a obra de Budowski, o pássaro realmente morava em seu coração, mas ele jamais foi um poeta preso ao coração, sua obra versa sobre as coisas ao seu redor e seu momento com elas, não sobre seu coração e seus momentos consigo... o outro equívoco é dizer que meu pássaro é o próprio sexo!!! esse pássaro jamais esteve preso, é livre até demais... o que penso é que meu pássaro azul fede, e isso incomoda, e fico feliz, porque essa era a intenção do poema... bjs

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  5. Carlos, veja só a sincronicidade, tem apenas dois dias que no youtube ouvi esse poema do próprio Bukowski e fiquei pensando no pássaro azul que mora em cada um de nós. Aprisionei o meu, fiz questão de passar correntes e cadeado na gaiola ( recentemente)mas em breve talvez o solte, esse auto-sadomasoquismo está me cansando.Você escreve com propriedade sobre tudo aquilo que em você transborda e eu adoro essa intensidade do sentir e das palavras.Bjos

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  6. Dália, sincronicidade é o conceito que mais gosto de observar... acho que já lhe falei sobre isso... somos poetas, o que falo nesse instante não quer dizer que o sinta neste instante... talvez, na vida real, nunca meu pássaro azul voou tão longe quanto o faz hoje, mas não tenho de falar do que vivo, e sim de como sinto e percebo as coisas... e estar atento a isso, é o que faz estarmos em sincronicidade... seu pássaro também achará o espaço de voar... bjs

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  7. Olá, Carlos!
    Quem dera se todos os poemas do poético ´´velho safado´´ eu gostasse o quanto eu gostei da sua adaptação ao mesmo? rsrs Embora mantem o mesmo propósito questionador, senti leveza nas menções. Agora, por que um pássaro? Por que azul? Bom, não sei se a linha em que vou interpretar, vai gostar, ou pior, totalmente equivocada. Mas, de uma maneira pontual e principiando minhas duas perguntas: pássaro...liberdade, azul... nobreza.
    Sabe,Carlos. Acredito que todos nós, temos essa vontade e ausência ao mesmo tempo. Nem sempre o despertar de uma liberdade é visto por olhos nobres, às vezes o enredo nos limita, e a ausência nos engaiola. Em um passado pouco distante, uma pessoa muito especial me disse: ´´Liberte-se Edna! Não deixa essa mulher acorrentada a sete chaves. Não fique no porão. Você fica mais rosada, quando se permite a luz do sol.´´ foram tantas palavras benditas e algumas mal ditas... enfim.
    Carlos, desculpe se fui atrevida e insensível ao seu propósito poético. Mesmo assim, quero registar o quanto apreciei o poema.

    Carinhoso abraço.

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  8. Edna, que bom te-la por aqui no Orgia... muito pertinentes suas questões e corretas suas respostas... sim, o liberdade é o que aspiramos, talvez por ser ela um conceito inatingível, como a felicidade... "estamos condenados à liberdade", disse Sartre, ao ser livres somos responsáveis por nossos atos, e isso nos intimida, nos limita... quanto ao azul, a nobreza é no sentido da liberdade ser nobre, é o blue, é o pano de fundo para o arco-íris se destacar... quanto ao Bukowski, para melhor apreciá-lo faça-se acompanhar na leitura de algumas doses de whisky barato, e muito despojamento, rsrs... bjs

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  9. O azul às vezes desbota, mas se é azul mesmo uma revitalização é sempre possível. E se é pássaro sempre voará, mesmo com as asas capengas... Bukowski está se mordendo de inveja, seja lá onde ele estiver! rs Simplesmente adorei! Gr. Bj. Carlos!

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  10. Cris, acho que se o velho estivesse lendo isso, de porre, daria muita risada... e estivesse de ressaca, mandaria tudo à merda..rs... usando suas próprias palavras:
    "Outro dia, fiquei pensando no mundo sem mim.
    Há o mundo continuando a fazer o que faz.
    E eu não estou lá. Muito estranho. Penso
    no caminhão do lixo passando e levando o lixo
    e eu não estou lá. Ou o jornal jogado no jardim
    e eu não estou lá para pegá-lo. Impossível.
    E pior, algum tempo depois de estar morto, vou ser
    verdadeiramente descoberto. E todos aqueles
    que tinham medo de mim ou me odiavam
    vão subitamente me aceitar. Minhas palavras
    vão estar em todos os lugares. Vão se formar
    clubes e sociedades. Será nojento.
    Será feito um filme sobre a minha vida.
    Me farão muito mais corajoso e talentoso do que
    sou. Muito mais. Será suficiente para fazer
    os deuses vomitarem. A raça humana exagera
    em tudo: seus heróis, seus inimigos, sua importância."
    Charles Bukowski

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