sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

ONDE ANDA O AMOR?

onde anda o amor? a pergunta foi feita na intenção de provocar a poesia, sendo ela mesma, em si, uma alusão poética... o amor, onde anda, onde canta, onde manda, onde desanda? onde é amor, onde é onda? que amor? é, enfim, o que me pergunto... fosse no tempo do Byron, do Dumas, não haveria dúvidas, seria sobre o amor romântico que estamos a falar... mas nesses tempos de pós-modernidade, de globalização, a nossa  língua já se misturou tanto com outras, já somos menos regionalistas e descobrimos que a nossa palavra amor é limitante... está lá, no dicionário, doze situações em que o substantivo masculino “amor” pode ser utilizado, e outras tantas formas se composto... os gregos tem várias palavras distintas para o amor, como philia, eros, storge, pragma, ágape (termo já quase que vulgarizado desde que descoberto pelos espiritualistas)... em latin há amor, dilectio, charitas; em chinês as palavras para o amor são ai, lian, qing, yuanfen, zaolian... então, de que amor estamos a falar? o romantizado entre eu e voce? o amor do filho... da mãe, o omisso, o amigo, dos bichos, de deus, o seu... pelo dinheiro, pela natureza, pela beleza, pelo poder? amor cortês, amor livre? fazer amor? morrer de amor? amor à arte? sim, poeta que sou, esse é o que mais me interessa... amar é pensar, diz o pastor amoroso do caieiro... outros  dizem que é sentir... acho que ambos tem razão, mas enquanto quem sente tem apenas a poesia, quem pensa faz poema... eis o artista, eis o verdadeiro poeta, para quem conta o ato e a obra... a cisão não diminui a poética, respondo em exemplo o dilema do amante de deusdeti: apoiar a luta armada ou fazer versos para a namorada? “sinto novamente sob meus calcanhares as costelas do rocinante”, quanto lirismo, quanta poesia do che guevara para dizer que estava indo novamente para a batalha (sem saber que esta seria a derradeira)... “ao amor antigo - mais triste? não. ele venceu a dor, /e resplandece no seu canto obscuro, /tanto mais velho quanto mais amor.”  simples assim o Drummond, que não ia às ruas defender seu verso... não precisava. os dois tinham sua poética, um era mais intenso, voluntarioso, talvez até mais necessário, o outro era apenas mais poeta... desses que amam as musas, ao contrário dos misomusos, tão espalhados hoje em dia pelos ambientes da arte, da poesia, que quem é poeta (seres em geral  retraídos) se retraem ainda mais... onde anda o amor às musas? agora que elas são tantas, agora que o homem pode amar o homem, e a mulher amar a  mulher, amor animal, amor virtual, amor inter-racial (o mais lindo), agora que há tanto amor espalhado, tantas musas, a intenção poética substituiu o poema, diminuiu-se o labor, a criação, a pesquisa, a inovação, a perenidade do verso, a poesia é menor que a volemia, morre antes da carne, morre todo dia o verso que acabou de nascer... onde anda o amor? não sei o dos outros, o meu está por aí, nas entrelinhas dos poemas, no vão da porta entreaberta, na estrada para o mar, na rima, no ritmo, no estilo, nos livros... sempre no olhar da musa, como aquela que me disse um dia, quando era pequenina: “a musa é quem ilumina o papel para que você possa escrever e ser, enfim, poeta”... entre poema, poesia e alguma filosofia, concluo da forma mais abrangente possível: o amor não anda, fez morada em mim.

2 comentários:

  1. Simplesmente adorável e o desfecho foi perfeito: "o amor não anda, fez morada em mim"... maravilhoso! Um bj

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  2. Que maravilha!!
    Amei ler cada linha, cada frase, cada letra.
    Obrigada pela esplendida leitura!

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