terça-feira, 21 de maio de 2013

CONFLUÊNCIA - OU O PARADOXO DA DOR


semana passada
difícil, solitária, egocêntrica,
quase narcisista. 
 
como diferem, no poeta, as dores:
a dor d'alma o faz voltar-se para o mundo;
fecha-se em si para entender,
e abre-se em poemas para expressar. 
 
a dor física o faz voltar-se para si;
abre-se ao mundo para encontrar o remédio,
e fecha-se em si por não poder dar-se ao mundo. 

a dor n'alma o faz solitário em sua luta,
como um herói mitológico,
ele enfrenta dragões para salvar o mundo.   

a dor física o faz triste, impotente,
luta contra micróbios com o qual lutam todos,
e todos perdem,
e ele não é nada além de alguém que também luta e também perde.  
 
a dor d'alma o faz diferente, a dor física o faz igual.
 
assim chega ao final esta semana, arrastando dias,
e neste arrasto trazendo a melancolia:
 
o filosofo invade o poeta e pensa suas dores,
alia à sua enfermidade física uma doença n'alma,
a de se saber mais humano e menos poeta,
mais igual e menos um.
 
paradoxos vívidos e retos,
 
ao acrescentar ao poeta a dor em sua alma,
o filósofo lhe devolve sua condição poética,
e a melancolia que abateria ao homem eleva ao poeta,
e nada é triste ou dorido além do fingimento.
 
diz  Umberto Eco que o
poeta escreve o poema ideal
para a musa idealizada,
assim como o filósofo pensa as coisas ideais
para um mundo idealizado, 
 
é o mesmo conceito do Pessoa,
o poeta finge a dor,

o filósofo pensa friamente sobre a vida, 
não vivenciando, ambos, aquilo que expressam,
pois não é esta a função da arte ou da filosofia.
 
mas, e quando habitam no mesmo cérebro o poeta e o pensador?
e quando apenas saber não basta,
pois este cérebro cresceu em um corpo aventureiro
com um peito romântico? 
 
aí, meu amor, 
 
vamos à vida.
viver a dor para senti-la doída;
viver o amor para senti-lo amante;
viver a vida para sentir-se vivo.
 
o dia hoje ainda trará a noite
e nela te espero para descansar da dor,
amar o amor, e continuar a viver.


isso é o mais leve que consigo ser...

 

3 comentários:

  1. Uma maneira peculiar em formatar um poema. Quase um assunto técnico, digamos assim, rss. Acho que tudo é um paradoxo, nossa existência, nossas dores sejam lá do que forem, nossas experiências nos relacionamentos afetivos. Amei a maneira de escrever, vou seguir e espero que siga meu blog tbm para trocarmos figurinhas. As pessoas dizem que tenho um jeito estranho de escrever, mas é assim que sinto o mundo: estranho. Um beijo com o meu carinho.

    ResponderExcluir
  2. então...tanto filosofia e poesia são instrumentos para exploração de nossos sentimentos
    adorei seu texto
    bjsdiet

    ResponderExcluir
  3. Por meio da poesia o ser humano revela sua sensibilidade sem pudores ou orgulho. É a maneira mais sutil do poeta se entregar aos sentimentos.
    Lindos poemas - linda a tu orgia...

    Abraço

    Ivonita

    ResponderExcluir