espero que jamais seja tarde
sobre sempre o tempo
necessário,
o emissário negro se atrase
e possamos nos reconciliar com nossas renúncias,
as denúncias de que amamos pouco sejam retiradas
- amaremos tanto que esqueceremos o que é amor,
as desculpas que pedimos sejam ignoradas
- fizemos o que fizemos, não há o que refazer;
as dores que causamos sejam recuperadas
- tudo é dorido, pensar dói, não se acaba,
as palavras que proferimos sejam ouvidas
- não pedimos que sejam compreendidas, apenas ouçam, ouvidos
moucos, ouçam!
e se já for tarde, fiquemos um pouco mais
o arroz vai queimar
o trem vai sair
a musica vai acabar
o dia vai escurecer
e nós aqui, entre um gole de esquecimento e uma porre de
isolamento
o tédio engrandece uma vida,
o que eu fiz, o que eu não fiz, o que eu quis?
planos para o passado alimentam a alma vazia
a alma que dói, dor de ter vivido cedo
c a n s a d o cedo, amado sempre
perdido no quando...
eu quero voltar a medir meu tempo pela emoção
- pelo tesão
por aquela sensação de arrogância e ambição e desespero
de quem não espera,
esses a morte não alcança, eles vão à lança
trespassados, transidos, translúcidos
sentados à poltrona de uma ampla varanda burguesa
à tarde, vento morno, sol poente avermelhado
parece poesia, quem vê aparência
nada sabe da essência inconformista,
do que não fala o que não escuta
- esse é o poeta
ai dele!
ai dele!
que jamais seja tarde
para um brinde de cicuta.
Acho que todo poeta sem querer pede um brinde com a morte. Inconformado com o absurdo da realidade.
ResponderExcluirUm beijo. Dois. Três. Ah vai, o poema merece muito mais!!! Rss.
Carlos,
ResponderExcluirPenso que é bem essa a minha essência, inconformista, pois na verdade qualquer zona muito confortável me incomoda, mesmo quando desconheço a razão. Ai daqueles que pensam e sentem demais! Será que o que lhes resta é esse brinde? Muito lindo o poema, muito lindo! Gr. Bj.!
Lindo e sedutor, o poema traz uma mistura de sentimentos que ao menos um dia na vida já sentimos, ou muito mais que isso...
ResponderExcluirParabéns pela obra!
Carlos,
ResponderExcluirAs maravilhas encontram-se além da conformidade...
Há, nos destinos incomuns e no tempo fora do tempo, algo que parece impossível de alcance, algo que permite uma óptica da vida bem diferente. Que o tempo fuja ou não ao poeta, os versos assim deitados já chegam... ou deveriam...
Um grande abraço!
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simplesmente aflora no leitor algum igual sentimento. mente aquele que diz contra, ou já a cicuta tomou e perfeito efeito teve.
ResponderExcluirParabéns. Sigo sempre...
Sálvio Sérgio
Escritor
Medir o tempo pela emoção é viver com V grande, realmente ver e sentir e escutar. Mas acaba também por ser fatigante. Não sei como os poetas sobrevivem!
ResponderExcluirUma doce semana
Ruthia d'O Berço do Mundo