já fui
barquinho de papel
nas calmas
águas de uma bacia de alumínio,
já fui
canoa furada
naquela
lagoa em que Narciso e Ismália
se
enamoraram, ouvindo a serenata de sapos
à lua
(também já fui sapo),
noutros
tempos fui um cruzador
matei e
morri vinte vezes,
quem sabe
sobrevivi aos naufrágios da alma
apenas para
sucumbir às tormentas do coração!
Poseidon
não me quis, o sal me curou
depois dos
sete mares singrei mais um
sangrei,
veleiro sem vento
fui
corsário, gaulês, aportei em Mucuripe
jamais fui
mercante
jamais
desisti de ser errante
fui, apenas
fui
ouvindo dos
portugueses
antigos
marinheiros, as vozes mortas:
“navegar é
preciso, viver não é preciso”
de repente,
o remanso
atravessei
a pororoca, o dilúvio
somente um
iguapé me comporta
sou bote,
bóia, iole jusante
mantenho
altivo o pulsante
pulo ondas
e marolinhas
extasiado,
excitado, extenuado
já não sei
onde chegar
- nunca
soube, nunca soube
tu não tens
a minha âncora
como parar
em tuas águas tão tensas?
não paro,
mergulho
vou em teu
fundo, respiro
é por navegar
que te vivo.
Não, não tem a âncora... Vai navegando e mergulhando, em gerúndio, de acordo com o tempo... Muito bom!
ResponderExcluirBeijos! ;]
Que poema mais lindo, e quem nunca sentiu-se assim, ora âncora,ora cais,ora náufrago a navegar sem saber onde.
ResponderExcluirAdri
Lindo, adoro ler o que escreve, sou sua fã. Gosto assim de coisas profundas, que mexem com a alma, sensibilidade que aflora, que flui, transborda, que enche o barco com água e peixes, que o faz sobreviver em meio a tormentas, pela arte, em prol da poesia.
ResponderExcluirBonita poesia, Carlos. O amor não é amor se não o vivemos com toda intensidade. Abraços.
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